Voltei para falar disso.
De fato sinto-me atingido de todos os lados por essa questão. Tenho minha moça participando e familiares queridos idem. Inclusive uma maravilhosa prima no olho do furacão, aluna do Christus e provável "repetente" da prova de 2011.
Primeiro vamos pensar sobre o ENEM.
Eu concordo plenamente com a proposta do pleito nacional. Acho que ele avança "anos luz" em nosso processo educacional. Ele não só garante acesso irrestrito, articulando pelo SISU todas as possibilidades para o "vestibulando" em todo o país, como, sutilmente, inicia a mudança de paradigma fundamental no ensino médio, ele exige que o candidato saiba "pensar"!!! Ora, "ensinar a pensar" é muito mais complexo. Ensinar a refletir exige um certo grau de autonomia e um certo nível de discernimento. Alunos capazes que não tiveram chance de adquirir uma "formação adequada", ou "particular" em geral, podem concorrer, a certo nível com alunos ultra informados que possuam um nível rasteiro de reflexão. O ENEM proporciona uma mudança de paradigma na educação brasileira.
O fato é que existe muito dinheiro e muito interesse envolvido nesse imbróglio. Muita gente deseja o fim do ENEM, porque é muito mais fácil ensinar um aluno a "decorar" certas coisas do que aprender a "pensar" sobre a realidade. A maioria dos professores "renomados" do ensino médio que conheço repudiam o ENEM, justificando que esse processo não mede adequadamente o conhecimento do aluno. Mas a questão a meu ver, é outra... há menos controle sobre a ponte entre o que se ensina e o que se cobra na prova. A redação é alvo das maiores críticas.
A redação do ENEM é corrigida por dois professores. A nota final é uma média simples entre eles. Para o sistema uma variação de até 300 pontos (vale de 0 a 1000) é aceitável. Eu acho muito, mesmo assim não é o fim do mundo! Para o ENEM o conteúdo da redação conta. O argumento vale ponto. Não basta apenas escrever corretamente, tem de ter conteúdo. Esse é o problema do ensino médio brasileiro. Faz muito tempo que bastava ensinar a escrever correto. Caso o aluno redigisse sem nenhum erro de concordância, ortografia, pontuação, dentro das linhas e do tema, era 10!!!! Podia ser a imbecilidade que fosse! Era 10. Hoje não é assim, tem de ter argumento.
Ocorre que isso traz um problema para a correção. Ela passa a ser "subjetiva". E se o corretor não concordar com o argumento... a nota cai! Esse é um aspecto que precisa "obrigatoriamente" evoluir.
Em relação as falhas do ENEM.
Em 2009 a prova vazou. Toda ela. Descobriram antes e mudaram a prova antes de aplicá-la. Os envolvidos foram pegos me respondem a processo, infelizmente ninguém ainda está preso, mas isso não é "culpa" do ENEM. A prova foi aplicada corretamente, sem falhas graves e ninguém foi prejudicado no "afinal das contas".
Em 2010 houve um erro, de impressão. Quando uma parcela das provas foram aplicadas com falhas nos gabaritos e questões. Muitos candidatos tiveram que refazer o ENEM. Foi um erro grave? Sim. Mas afetou 0,003% dos candidatos. Ao todo, próximo de 9.000 candidatos repetiram a prova. Num universo de 4 milhões de estudantes foi um erro "mínimo", típico de um processo que está sendo construído.
Em 2011 não houve nenhum problema na aplicação do ENEM. Repito, NENHUM!!!! Mas houve, infelizmente a antecipação de "14 questões" pelo colégio Christus em Fortaleza, estado do Ceará, que colocou em "xeque" todo o processo.
Para entender essa situação necessitamos de várias informações "extras" ou "anteriores".
As questões do ENEM são feitas exclusivamente para ele. Não estão em nenhum local da internet, livros ou bancos de dados alheios ao do INEP. São contratados professores universitários, que não trabalham com o ensino médio para criarem as questões num ambiente perfeitamente controlado. O professor assina um termo de autenticidade das questões e as constroem numa sala sem nenhum contato com o exterior.
Suponhamos que um professor fez 50 questões. Dias depois ele é avisado sobre quantas questões das que ele fez foram aprovadas. Imaginemos que das 50, 20 foram aprovadas. Essa 20 vão para o banco de dados mas o professor não sabe quais foram aprovadas e quais não foram. Isso significa que o professor não pode afirmar se a questão "X" vai "cair" ou não no ENEM. As questões aprovadas vão para o banco de dados. E mesmo aprovadas não há certeza de que nenhuma das 20 serão utilizadas em algum ENEM. É possível que elas nunca sejam utilizadas.
O banco de dados contém um número muito maior de questões do que são aplicadas e isso diminui ainda mais a chance de alguma questão de 1 único professor seja usada.
Repetindo, em 2011 não houve "NENHUM" problema na aplicação do ENEM. NENHUM PROBLEMA!!! Mas houve o problema da antecipação das 14 questões pelo colégio Christus. Só que essas questões vazaram no "pré-teste" do ENEM. Vamos entender o que é isso.
O ENEM tem 180 questões mais redação. Porém o método utilizado é o TRI, que atribui valores diferentes às questões. Isso significa que dois estudantes que acertarem as mesmas 130 questões terão notas diferentes, porque as questões estão divididas em Fáceis, Médias e Difíceis. Mas ninguém sabe que questões são as fáceis, médias ou difíceis. A classificação de uma questão como fácil ou difícil depende do PRÉ-TESTE. Ele sempre é aplicado 1 ano antes do ENEM vinculado ao pré-teste em várias escolas pelo Brasil. Em 2010 o pre-teste foi feito em 10 estados e no Ceará a escola sorteada (sim, é um sorteio) foi o Christus.
É no "PRÉ-TESTE" que são definidas que questão vão ser classificadas como fáceis, médias ou difíceis, pela quantidade de acertos dos alunos submetidos. A definição de quais alunos participarão e quantos serão é feita por amostragem. E são aplicados aos alunos que teoricamente não farão o ENEM do Pré-teste.
Ocorre que dos 36 cadernos do "pré-teste", aparentemente o Christus teve acesso a 2 deles. Como? Não sei. Fato é que o Pré-teste em 2010 foi aplicado no Christus e dos 36 cadernos eles tem as informações de 2.
O processo do Pré-teste é relativamente simples. As questões vem lacradas de Brasília. Os aplicadores são de fora e vem exclusivamente para a aplicação. Eles entram, aplicam e saem com o mesmo número de cadernos que entraram. Nenhum foi extraviado em 2010. O responsável pela aplicação do Pré-teste é a Fundação Cesgranrio e a responsabilidade dela deve ser cobrada, porque ela está no olho do furacão e quase não se fala nela. Como o Christus teve acesso é uma incógnita. Mas o FATO é que faltando semanas para o ENEM o Colégio Christus distribuiu um TD com seus alunos contendo todas as questões dos 2 cadernos do pré-teste em questão. Esse material foi entregue impresso sem a "logomarca" da escola e sob orientação, segundo narrativa de alunos, de que deveriam ser restritas aos alunos porque "provavelmente" algumas questões cairiam no ENEM.
O resultado desse "provavelmente" é que cerca de 14 questões foram aplicadas no ENEM de maneira "idêntica" ou muito semelhante (mudando detalhes no enunciado, por exemplo) as contidas nos cadernos do pré-teste. Podia não ter "caído" nenhuma, mas podiam ser 20, 30 ou 40... as questões do pré-teste podem ou não aparecer na prova do ano seguinte mas não há garantias.
Diante do problema eu acredito que a situação será resolvida penalizando os alunos do Christus. Acho que a decisão será "política" e não técnica. A "culpa" cairá sobre o Governo ou sobre a escola... e o Governo não vai comer essa bronca... ele quer preservar o ENEM e nisso eu torço por ele, apesar de lamentar profundamente a solução encontrada. Toda solução nesse momento é um remendo, sempre prejudicará alguém, desde que a prova não seja anulada. Além disso tem a questão de que os dos 600 e poucos estudantes já indicados não são todos, existem outros que estão fora da conversa. O Christus tem os alunos do cursinho que na inscrição do ENEM não identificam escola, mas que tiveram acesso amplo ao logro dos TDs. Esses ainda devem entrar na "brincadeira" da anulação, se assim for.
O que o COLÉGIO CHRISTUS precisa responder, na minha opinião é:
- Como ele teve acesso a todas as questões dos 2 cadernos do Pré-teste de 2011?
- Porque as questões foram ofertadas aos alunos num material "sem a logomarca" do colégio?
Eu acredito (é uma questão de crença e não de fato) que o colégio agiu de má fé. E lamento profundamente que uma longa história de serviços prestados com qualidade a sociedade cearense seja manchada desta forma.
E sobretudo, tenho muita dó de todos os alunos do Christus que fizeram o ENEM que talvez necessitem refazer a prova. É uma provação desnecessária. Os alunos nada fizeram de errado para sofrerem isso, em nenhum momento. Apenas estudaram, cultivaram o sonho de uma faculdade e confiaram no colégio e professores. Em suma, o que todos os alunos de todo Brasil fizeram e farão, confiar nos seus professores.
Sobre as colocações preconceituosas sobre nordestinos e afins eu digo que: "todos temos nossa cota de IMBECIS", a cota de São Paulo se pronunciou falando mal do Ceará e do Nordeste e a "nossa própria cota" está na rede falando mal dos estudantes do Christus que nada fizeram além de reagir defensivamente com medo diante do turbilhão que os acossou...
Espero que o ENEM permaneça; Que os CULPADOS por essa ofensa sejam responsabilizados; e que todos os alunos do Christus façam uma boa prova, se nada mudar até lá.