quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Batalha do Apocalipse

Acabei de ler a poucos dias. Gostei e não gostei na mesma medida.

O fio da história é excelente. O autor, Eduardo Spohr, conseguiu um história muito boa. Fantástica em alguns momentos. Pecou na execução. Resumindo: o enredo é elogiável, muito bom mesmo, conseguiu deixar-me surpreso e admirado, contudo a execução necessita de reparos.

O roteiro é excelente, cheio de surpresas, referências e ideias que me surpreenderam e alegraram. Realmente é uma composição notável.

A obra e o autor necessitam urgentemente de revisor de Português e de roteiro. Existem muitos erros de português na obra. Vários que se repetem. E olhem que eu não sou bom nisso. Em geral vou lendo e encontro coisas que "soam estranho" entre as linhas, aí vou procurar, consulto o Google, pergunto a minha amada, ao meu pai e consigo achar o erro. Para quem é bom em português de verdade, alguns trechos devem gerar assombro. Já foram várias edições, não há motivo para não terem revisado o texto.

Outro aspecto é a mistura de uma narrativa formal salpicada de gírias coloquiais. Numa mesma frase, que vem escrita de maneira formal, podemos achar um termo coloquial como "sarada". É estilo, mas incomum. Não faço crítica a isso, mas é uma característica do texto.

Achei de péssimo tom, na orelha do livro, compararem a obra com Tolkien. É forçar muito a barra. O autor tem grandes méritos, inegáveis, mas compará-lo a Tolkien por essa obra é uma inaceitável sandice.

O texto inicia em 3ª pessoa. Evolui e repentinamente, de um capítulo para o outro, muda para 1ª pessoa. Depois retorna a 3ª pessoa até o fim da obra. Embora algumas pessoas possam gostar, achar inovador, não me agradou. Não é errado, até onde sei. Mas achei estranho. Nada que elimine a qualidade da estória.

Quem for religioso ferrenho, que considere a Bíblia um livro escrito direto pela força divina influenciando a mão de "profetas" não irá gostar do livro e dificilmente o lerá até o fim. Para algumas visões religiosas o livro é um pecado só e um desrespeito. Eu não acho assim, mas conheço muita gente querida que achará o livro digno de fogo.

Porém, o que mais me incomodou foi a incongruência de alguns detalhes da estória. Tem lutas em que é dito "braço deslocado" e parágrafos depois "braço quebrado", referindo-se ao mesmo ferimento. Noutro ponto afirma que a muralha tinha 50 metros, mas ao longe podia-se ver sobre a muralha um prédio de 5 andares... como? Entendi que o prédio deva estar numa elevação, mas não fica claro. Noutro trecho a espada está vinculada ao anjo, e sem ele vira pó, para muitas páginas depois um anjo, após perder a sua espada, pega a de outro anjo morto. Alguns embates entre personagens carecem de "isonomia" com o resto do livro. É como se o herói ganhasse de um tigre com facilidade e ficasse por um fio lutando contra um gato. Mas todas essas coisas que me incomodam bastante, costumam passar despercebidas. São detalhes.

Mesmo assim o livro merece ser lido. Eu gostei e desgostei rsrsrs

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Beradêro

(escute)
Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador
E a voz da Santa dizendo
O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor
A tinta pinta o asfalto
Enfeita a alma motorista
É a cor na cor da cidade
Batom no lábio nortista
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista
Cadeiras elétricas da baiana
Sentença que o turista cheire
E os sem amor os sem teto
Os sem paixão sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire
A contenteza do triste
Tristezura do contente
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado verso mudo
Grito no hospital da gente
Iê iê iê, iê iê iêIê iê Iê, iê iê iê
Catulé do Rocha
Praça de guerra
Catulé do Rocha
Onde o homem bode berra (repete)
Bari bari bari
Tem uma bala no meu corpo
Bari bari bari
E não é bala de côco (repete)
São sons, são sons de sins
São sons, são sons de sins
São sons, são sons de sins
Não contudo
Pé quebrado, verso mudo
Grito no hospital da gente.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Jogador de Futebol, Dinheiro e Preconceito

Este post é contra o preconceito travestido de criticidade acerca do negócio futebol e os ganhos dos jogadores. Já falei sobre isso antes, mas volto ao assunto.
É comum ver pessoas "conscientes", em bares, restaurantes, elevadores, salas de reunião e transportes coletivos descarregarem uma saraivada de críticas sobre o valor dos salários dos jogadores. Parte desses críticos não entende "lhufas" de futebol e outros apenas repetem o que ouviram de um professor, advogado, médico, sindico ou o que o quer o valha com um ar de "sabideza" iluminada.

Fala-se do "absurdo" fato de um jogador ganhar mais de 1 milhão para chutar uma bola; "só para chutar uma bola!". Destaca-se que o médico ganha "Y", o professor ganha "W", o policial ganha "Z" que são profissões mais "importantes" que a de jogador.

Essa é uma falácia gasta e preconceituosa.

Concordo plenamente que Médicos, Professores, Policiais e várias outras profissões devam ganhar bem. Destas destaco apenas que os médicos já ganham muito bem (e muito). A ideia de que o médico ganha mal é uma informação parcial e manipulada. Ocorre que alguns acham que ganhar 10 mil reais numa jornada inferior a 40 horas semanais é pouco. E sou plenamente de acordo com o que ganham os jogadores de futebol, aliás, acho que eles deveriam ganhar mais como categoria. Não que eu ache o salário do Ronaldinho pequeno, eu explico...

Considero que a crítica nasce do nosso preconceito comum sobre a dicotomia criada entre "trabalho manual" e "trabalho intelectual". Desde a Grécia antiga, quando Sócrates convenceu a todos que o importante na vida era a "razão", definimos que tudo o que for intelectual é valioso e tudo o que é manual é superficial e portanto, sem valor.

Dessa forma organizamos nossa sociedade acreditando que toda atividade física é de "menor valor", indigna da "elite", indigna de pessoas capazes e com formação universitária. Atividades físicas tornaram-se, na nossa cultura de origem escravista e acomodada, próprias das massas iletradas e escuras, que só poderiam contribuir com atividades simples, muitas delas que dependiam da força física, equiparadas a atividade de animais de carga em sua condição de "irracionalidade".

Claramente acredito que o incômodo com o ganho dos jogadores provém daí. Como uma pessoa ganham 1 milhão para desempenhar uma atividade física se eu, que sou professor, e trabalho com algo muito mais valioso, que é o intelecto, ganho pouco? "ABSURDO!!!?

Será?

Ser jogador de futebol no Brasil é uma profissão de risco a curto, médio e longo prazo. Começa-se cedo, por volta dos 12 anos, treina-se muito, o que acaba inviabilizando o estudo formal e a consequente falta de capacitação profissional para qualquer outra função. A profissionalização no futebol, na prática, ocorre por volta dos 16 anos, quando inicia-se uma vida de altos e baixos e de muito trabalho.

A carreira acaba cedo. Por volta dos 34 anos de idade a maioria dos jogadores está aposentada. São no máximo 20 anos de atividade profissional. quando dá certo, ótimo, quando não, a pessoa está fadada a ter uma vida de dificuldades.

O Blog da Oficina de Jornalismo da Faculdade CCAA apresenta que:
"Segundo a CBF, dos 14.876 mil atletas registrados em 2010, quase 9.000 ganham até um salário mínimo, ou seja, cerca de 60% dos jogadores vivem com menos de R$600 mensais. O ranking ainda contabiliza, aproximadamente, 9% de jogadores que recebem salários acima de R$2.500 e apenas 4% que recebem acima dos R$10 mil mensais – salário que, ainda assim, estaria longe dos que recebem as estrelas do futebol brasileiro. Estima-se que somente 1% dos jogadores brasileiros receba mais de R$100 mil por mês, dentro e fora do país."

Isso mostra que os grandes salários são para poucos jogadores.

Os melhores salários no Brasil estão nas equipes da série A e B do campeonato Brasileiro. São 40 equipes, 20 em cada divisão. Levando em conta que cada clube tem em seu elenco aproximadamente 30 jogadores, mesmo que parte deles seja oriundo do time juniores (que ganha pouco ainda), isso significa que o mercado da bola no Brasil resume-se a no máximo 1200 vagas distribuídas de forma irregular pelas regiões do país. O jogador mediano assina contratos curtos, tem seus direitos trabalhistas desrespeitados, e passam uma parte do ano desempregados.

Como se isso não bastasse o trabalhador do futebol tem de conviver com as temidas lesões. Quando se tem contrato vigente o mal é menor, quando não corre-se o risco de encerrar a carreira e ficar à mercê da caridade alheia ou do amparo familiar.

Mesmo assim é um meio de ascensão social maravilhoso. E para os virtuoses da bola, gênios como Neymar e Ronaldinho Gaúcho, é justo e merecido que recebam salários altos. Porque é justo que num negócio em que se movimentam valores na casa dos milhões a "estrela da festa"
ganhe proporcional. O orçamento anual dos grandes clubes é superior aos 60milhões de reais. Para alguns, é superior a 100milhões por ano. Isso significa que a circulação de recurso no clube é maior que 10milhões por mês. É justo que nesse patamar o clube tenha uma folha salarial do departamento de futebol por volta dos 3 milhões. Para um incomparável Neymar, é justo ganhar 1,5milhão, porque ele gera mais que isso ao clube.

Parece-me que ninguém falaria mal de um profissional intelectual que ganhasse 300mil numa empresa que ele ajuda a obter lucros acima de 3milhões de reais. O futebol é um negócio e o valor do salário dos jogadores deve ser compatível com a movimentação financeira que eles promovem. Criticar seus ganhos porque vieram de favelas, porque são negros, porque fazem um "trabalho braçal" é puro PRECONCEITO.
E o que o Neymar faz quase ninguém no planeta faz... isso tem um valor inestimável. E se toda atividade física for subvalorizada, o que faremos com a arte? A que nível legaremos os escultores e pintores? De que valerá um Rodin? Alguém supõe que ele tenha feito sua obra maravilhosa com a força da mente? Quanto valerá um Monet? Um Van Gogh? Alguns deles nunca frequentaram os bancos das escolas de belas artes... alguns não sabiam escrever e outros eram feios, escuros e sujos... o "trabalho braçal" deles não vale nada?
Repito; os jogadores como categoria devem ganhar melhor. Os grandes astros ganham o justo. E os pretensos "intelectuais críticos" que tentam desmerecer o trabalho dos jogadores são tolos preconceituosos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Retina


Talvez hoje deseje ser alguém normal,
Talvez entenda, de uma vez por todas, que ser errante tem seu preço,
E como é amargo não mentir facilmente.

Quem dera ser comum no entendimento,
Não ser esquerdo e comungar com todos,
Porque é custoso estar à frente, estar atrás, ser renitente.

E gostaria hoje, olhar a parede e só ver tijolos,
Encontrar os pés e contar os dedos,
Achar natural, sem estranheza, ser indolente.

Talvez nesta data esteja faminto,
Esteja zangado e desiludido,
Esteja tão tosco como antigamente.

Quem sabe esteja perdido, sufocado e desguarnecido,
No limbo entre o que poderia e o que se é,
Na usura de viver tão tolamente.

Évio