Este post começou a séculos atrás. É longo. Penso nele a mais de um ano quando a mídia começou a dar visibilidade a "crise iraniana" e as relações do Brasil com o Irã, ou melhor, do ocidente com o Irã. Falarei sobre isso em mais de um post, para ficar didático e "não-enciclopédico". Vamos primeiro a história do Irã.
Primeiro tenho de reconhecer que sabemos muito pouco da história Iraniana. Nossos estudos escolares limitam-se quase exclusivamente a história européia, uma parcela da história do Brasil e tópicos de história regional. O que sabemos da Ásia restringe-se aos acontecimentos em que potencias européias estiveram envolvidas.
O território onde hoje ficam o Irã e o Iraque é disputado a milênios porque, numa região seca, tem água e terras cultiváveis. Além disso é o epicentro do mundo, numa perspectiva de deslocamento terrestre, todos os caminhos passam por lá. E nos últimos tempos, pelo petróleo farto em seu subsolo. Não é de hoje que os povos que lá tem berço ou fincaram raízes vivem em clima de conflito armado.
O Irã é o berço do Império Persa, que data de 800 antes de Cristo e chegou a ser o maior império da antiguidade durante décadas. Era uma cultura luminar, com amplo desenvolvimento da astronomia, matemática e escrita. A partir do ano 600, com a conversão ao Islamismo atráves das invasões de tribos Árabes, a Pérsia findou por tornar-se o maior Estado da Terra ao estender seus domínios por todo o norte da África e na Península Ibérica, onde foi contido em sua expansão por Carlos Magno na França. A Europa estava acuada pelos Árabes do Islã.
A partir do ano 1000 a Pérsia foi dominada pelos Turcos, também muçulmanos, e continuaram fortes por 200 anos até depararem-se com Gêngis Kan. O Grande Kã e seus descendentes conquistaram toda a Pérsia. Até o ano de 1500 a Pérsia perdeu qrande parte de seu território e de sua cultura.
A partir de 1500, assume o poder uma linhagem Iraniana. Em 1700 a Rússia e a Turquia invadem o Irã e são repelidas. O Irã sustenta-se como estado independente com esforço, espremido entre os impérios colonialistas Russo, Turco e Inglês(Índia), perdendo continuamente territórios para essas potências.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial, o petróleo Iraniano virou recurso disputado no tabuleiro de guerra. Após seu término, foi instituída a dinastia Pahlavi no Irã. Os novos líderes acabaram por aproximar-se do Império Britânico. Os Ingleses passaram a controlar o petróleo Iraniano com exclusividade e a interferir constantemente nos assuntos internos do país.
Essa condição subordinada incomodava a cultura Iraniana e só piorou com a Segunda Guerra Mundial. Nela, o Irã foi invadido por Ingleses e Russos, tudo por causa do... Petróleo. Após a guerra as tensões aumentaram e, com novo governo, levaram a nacionalização do petróleo, ao rompimento com o Reino Unido e a aproximação com a Rússia. Isso não durou, pois o governo foi deposto com a ajuda de Inglaterra e EUA. O retorno dos Pahlevi(Reza Pahlevi foto) ao poder deu aos EUA, principalmente, muito poder para mandar e desmandar nos assuntos internos Iranianos, além do controle total do petróleo.
Toda essa situação levou, como não poderia deixar de ser, a uma revolta em 1979, a Revolução Islâmica liderada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini. É esse processo revolucionário que está no poder até hoje.
Em resposta imediata à Revolução Islâmica os EUA financiaram um golpe militar no vizinho Iraque, empossando e fortalecendo o ditador Saddam Hussein(foto). Em troca Saddam move uma guerra sangrenta por 8 anos ao Irã. Nela, o Iraque era financiado e armado pelos EUA e o Irã sustentando-se trocando petróleo por armas com a antiga URSS(Rússia). Em 1988 a guerra termina sem vencedor com os dois países arrasados.
Os EUA, insatisfeitos com a "perda" do domínio sobre o petróleo iraniano, estabelece pesadas represálias ao Irã. Impedindo que outros países capitalistas fizessem comércio com o Irã. Com o tempo e o agravamento da crise Russa, a própria Rússia acabou por participar de parte do bloqueio comercial ao Irã.
Mesmo assim o Irã permaneceu firme em seus propósitos estabelecendo uma teocracia de certo sucesso e mantendo-se íntegro frente as ameaças externas e internas financiadas pelos EUA.
A situação atual do Irã é a mesma até hoje, resistindo ao bloqueio econômico e constantemente sob ameaça. Contudo, o Irã também ameaça, constantemente.
Mas cá para nós, eu compreendo um pouco a sensação de desconfiança que os iranianos tem com os acidentais, afinal, o ocidente passa a vida a pensar que o Irã é "Casa da mãe Joana".
Um comentário:
Tem uns 40 anos que não é despejada dentro de mim uma coca cola. Quando eu era menino pequeno, cerveja me amargava, depois houve um tempo que ficou semi doce, durou pouco e voltou a amargar para sempre. Eu não sei o porquê, parece que já me afloram os para quê. No Irã nudez humana pública, sexo laissez-faire e bebida alcoólica são proibidas, no Brasil são obrigatórias. Depois que aconteceu comigo ser um fora-da-lei, além do bolso, a saúde do corpo e do espírito só tem me trazido paz...:)
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