sexta-feira, 22 de abril de 2011

Desvelar ou Revelar!

Acompanho pela internet, de longe, o debate sobre o uso do véu islâmico na Europa. Tenho lido as opiniões, as justificativas de segurança e o debate sobre a liberdade religiosa. Acho que já consigo expressar minhas reflexões acerca do debate.

Antes é valioso lembrar que o uso do véu islâmico é anterior ao Islã e representa uma tradição cultural antiga. Não compartilho da argumentação de que o uso do véu é opressivo em si, acredito sinceramente que a grande maioria das mulheres muçulmanas sintam-se confortáveis e seguras usando seus véus.

Outro aspecto importante no debate é que não há um só tipo de véu, existem muitos. Dentre eles os mais usados são a Burca (que cobre todo o corpo), o Niqab (que deixa à vista apenas os olhos), a Hijab (que cobre cabeça e colo mas deixa o rosto à mostra) e o Xador (que cobre todo o corpo mas deixa à mostra o rosto).

Compreendo que seu uso possui significado cultural e religioso, sendo importante para a vida social dos muçulmanos. Meu ponto de vista inicial é que não há nenhum problema em utilizá-lo. As pessoas devem ter a liberdade de se expressar religiosamente e socialmente sem serem castradas na sua diferença.
Contudo, é necessário algumas reflexões além disso. Tomemos o caso da França. Desde 2010 não é permitido utilizar o véu integral (tipos que cobrem tudo ou mostram apenas os olhos) nos lugares públicos em território Francês. Isso significa que qualquer tipo de véu que encubra o rosto é ilegal. E eu dou apoio à medida no sentido de que não posso criticar os franceses por legislar em seu território sobre costumes e hábitos que interferem em aspectos de segurança.

Agora complicou né? Não acho. Existe outro aspecto do reconhecimento dos costumes de cada cultura que precisa ser ponderado. Sua adequação a princípios gerais.

Posso pensar em vários exemplos.

A Farra do Boi é uma tradição cultural de Santa Catarina. É muito antigo e tem vínculos muito fortes na cultura local. No entanto é proibida. Tudo porque vai de encontro aos princípios de segurança e respeito aos animais, que sofrem demais em seu processo. É cultural, mas não pode!

Quero afirmar que não podemos justificar uma coisa errada justificada pela tradição apenas.

No Brasil é tradicional bater nas crianças como método pedagógico. E por isso está certo? Eu digo que não.

Em várias partes da Índia, é tradição que as mulheres sejam cremadas vivas quando da morte do marido. É religioso e faz parte dos costumes da tradição. Por causa disso pode? Não pode!

E a lista segue...

Sob esse prisma posso concluir que a França tem o direito de legislar sobre isso. E vou além.

Não gosto de justificar uma coisa errada com outro erro, mas nesse caso serei forçado a afirmar que "em terra de sapo, de cócoras com eles". Quero dizer que quando migramos para outros países ou estados e partilhamos nossa vida com nossas diferenças temos de nos adaptar até certo nível, caso contrário não vá. Quando visitamos um país muçulmano nós temos de obedecer aos costumes deles. Não podemos beber uma cervejinha, temos de respeitar o silêncio no horário das orações e nossas mulheres tem de usar o véu, mesmo que esse não seja o nosso costume, estou enganado? Então, não abro a boca para criticar a França ao limitar, de acordo com a sua cultura, os costumes em seu território.

Respeito é uma via de mão dupla!

3 comentários:

carlos disse...

Problema difícil. Por princípio sou contra essas imposições no que respeita a vestuário p.ex. Tb é verdade que as comunidades "estrangeiras" (as aspas têm que ver com o facto que no caso francês a maior parte são comunidades já francesas) têm que obedecer às leis do país. Agora o problema da segurança parece-me falso, pois em nenhum país democrático os cidadãos são (ou devem ser) identificados em espaço público sempre. E quando tiverem que o ser (aeroportos p.ex.) a solução parece-me simples, retirar o véu para identificação. Quem não aceitar aguenta as consequências (não viaja no exemplo citado). Acresce um outro problema que ajuda a contextualizar, na Europa, como sempre acontece nas sociedades em decadência social e económica, a primeira reacção é sempre contra o outro, o estrangeiro, a xenofobia. E em França a extrema direita cresce, o que não admira quando o próprio mainstream adopta as suas teorias . . Está difícil aqui pela Europa . .

carlos disse...

Desculpa Évio, como não tenho blog às vezes estico-me nos blogs dos outros hehehe

Contra a Maré disse...

kkkkkkkk
Fique à vontade, a casa é sua!
Caso queiras postar algo por aqui, as portas estão abertas.

Compreendo suas afirmações.
As comunidades são francesas.
Contudo temos muitos costumes locais ou de determinado segmento que são vez por outra regulados pelo estado.
Sobre o que falaste acerca da Xenofobia concordo plenamente.