domingo, 17 de abril de 2011

Avós

Semana passada fui a uma missa de sétimo dia. Já é a segunda do ano.
Perdi um tio-avô recentemente e perdi meu último avô a um mês.

Sinto falta dos meus avós.

Perdi o meu avô materno ainda muito cedo, num acidente automobilístico. Não tenho lembranças reais dele, apenas as que eu mesmo acabei fabricando com o que sei. Apesar de não lembrar tenho muito afeto por ele por tudo aquilo que ouvi.

Perdi minha avó materna com muita tristeza. Ela morreu em nossa casa, no exato tempo que lhe cabia e meu coração ainda chora a sua ausência. Ela era a mais próxima, a mais amada e mais querida dentre todos. Guardo muitas recordações. De seu cuidado, carinho e das horas maravilhosas que vivi em sua casa, na minha cidade natal. A imagem que representa a saudade para mim tem a ver com aquele recanto da infância, onde era muito feliz. Depois de tantos anos ainda engasgo ao lembrar de tantas coisas.

Perdi minha avó paterna em outro acidente automobilístico. Outra fatalidade. Inesperado. Lembro de cada detalhe naquele dia. Foi muito triste e principalmente por ter visto meu pai tão abatido e vulnerável. Sua partida mudou os rumos da família. Vivi completamente todo o processo, pois, à época morava com ela. A sua falta marcou a todos.

Perdi agora, meu avô paterno. Estava lá quando ele se foi. Quase toda a família estava. Foi de uma forma muito abençoada. Rodeado pelos filhos e netos e bisnetos, como ele gostava. Foi uma partida serena e cercada por uma dor aliviada. Não houve desespero. Doeu muito porque, além de gostar muito de meu avô, eu o tinha como uma homem muito forte, pacato, educado, religiosos e honesto. Meu avô era um homem absolutamente sério, absolutamente honesto e absolutamente humilde. Era um sertanejo admirável, que foi agricultor, retirante e servente. Que sempre enfrentou as inúmeras dificuldades de maneira abnegada e esperançosa. Ele adoeceu, tornou-se senil e resistiu a todos os problemas de saúde com uma fortaleza que desmentiu todos os prognósticos médicos. Mas o homem forte que conversava comigo na calçada, que me contava como tinha sido o namoro com minha avó e como tinha passado por dificuldades ficou cada vez menor, cada vez mais ausente e cada vez mais abatido. Eu o via pouco porque me doía vê-lo daquela forma. Visitá-lo pouco machucou meu pai e chateou uma parte da família, mas vê-lo acamado e sem reconhecer os familiares atrapalhava minha paz. Apenas depois de sua morte é que pude entender bem isso.

Os dois acidentes que me tiraram um avô e uma avó foram pelo mesmo motivo, má conservação das estradas. Mesmo que todos nós paguemos tão caro para mantê-las através de impostos que somem num mar de corrupção. Esses acidentes marcaram profundamente a vida de meus avô e avó que continuaram suas vidas lamentando e sofrendo a ausência dos companheiros.

Hoje estou mais só que antes. A ordem natural das coisas segue, e é bom que assim seja. Enterrar jovens antes do ocaso da velhice e a maturidade dos anos é uma dor imensurável, peço a Deus que nunca a sinta.

Fica a saudade.
Aqui, vovô com uma parte de seus netos e bisnetos.

Um comentário:

Danielle Martins disse...

Sinto uma falta enorme do meu avô... sei do que você fala.
Beijinhos pra vocês!