quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pergunta para Grego

A minha estagiária ontem olhou uma foto de um jornal do II Congresso Brasileiro de Psicologia e pergunta rapidamente e com vários agravantes no seu tom de voz:
- Porque o símbolo da Psicologia é um "tridente"?

Já respondi sorrindo por entender a dúvida com as implicações religiosas envolvidas:
- Não é um "tridente", é um Psi! O Psi é uma letra do alfabeto grego, como as letras alfa, beta, gama, delta, pi (o mesmo da matemática hehe) etc. O Psi é a vigésima terceira letra do alfabeto grego e é associada aos aspectos hídricos, fluídos e metafísicos da alma. O psi é a logo da Psicologia por representar a alma ou a mente na filosofia grega. Mesmo que fosse um "tridente", nada tem a ver com o demônio, porque o "tridente" em questão é associado ao psi (água, fluidez) na mitologia grega como sendo a arma de Poseidon, deus dos mares. Poseidon é anterior ao cristianismo e só adquiriu um significado ruim depois da criação da Igreja Católica Apostólica Romana, quando se esforçaram por combater as outras religiões mais antigas.

A História é muito legal! Quando os católicos romanos começaram a espandir-se no império romano encontraram grande dificuldade em debelar integralmente as religiões ditas pagãs. Uma das estratégias mais eficazes foi realizar um sincretismo com diversos aspectos de outras religiões para gerar familiaridade aos camponeses a nova religião. Dessa forma diversos hábitos pagãos tornaram-se cristãos, como as datas do carnaval, natal e festas juninas, que eram festas pré-existentes que continuaram a ser celebradas com um viés católico.

Outra estratégia largamente utilizada foi a "produção" de novos "santos" que ocupavam o lugar de deuses menores de cada aldeia, surgindo aí, o costume dos padroeiros, vivo até os dias de hoje. Além dessas ações construtivas, começaram a associar aspectos marcantes de outros deuses ao demônio. O tridente de Poseidon torna-se um símbolo demoníaco dessa maneira. Acho que fica muito claro esse modelo com o exemplo de Mitra a seguir.
Mitra

Mitra era um deus do panteão indiano, persa e romano. Ele era associado ao bem e ao sol (luz) em geral, além da força e energia. Na Roma antiga, tornou-se um deus guerreiro, cultuado pelos militares. Sua celebração principal era seu nascimento, coincidente com o solistício de inverno no hemisfério norte, na data de 25 de dezembro, quando hoje é comemorado o natal. Ele recebia oferendas em sacrifícios de touros e era também representado por um grande touro vermelho, com grandes chifres. Pois bem, sua representação original foi modificada e atualmente é uma das imagens clássicas do demônio. Seu mistério de nascimento em 25 de dezembro foi superposto pelo nascimento de Cristo e a festa continua, só que transformou-se de pagã, para católica.

Outro sincrestismo era que Mitra, na Pérsia, era cultuado como o deus redentor e que havia nascido numa gruta para a salvação dos homens e sua mãe também era virgem antes do nascimento. A associação era tanta que abaixo de muitas igrejas cristãs da antiguidade são encontrados "mitraeum", que eram o templo mitraísta para a celebração dos Mistérios de Mitra. É o caso da igreja de Santa Prisca em Roma.

Pois é, o velho mitra deixou de ser um deus bom, para virar o "coisa ruim".

3 comentários:

Aline disse...

Massa! Depois dessa explicação "tô me achando".

Leonardo Gadêlha disse...

Abençoados são os pré-vestibulandos que têm primos "nerds" em história... HAHAHAHAHAHAHA Ótimo post Évio! Estava vendo sobre essas datas mês passado, e vi uma informação de que é provável que Jesus tenha nascido, aproximadamente, no dia 29 de março. Olha aí... as jogadas marketing nem são tão novas assim!

Contra a Maré disse...

Jesus nasceu no fim do verão e não no "pino" do inverno! kkkk Cristo nasceu na páscoa (se não me engano, mas agora "tô cum os raciocín fraco!")