sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O problema é... quando os ouvidos tem paredes... ou - Os motivos do Terrorismo



07 de janeiro de 2015, Paris, França...

Os irmãos Chérif e Saïd Kouachi invadem a redação do controverso periódico Charlie Hebdo e fuzilam com fuzis de assalto 12 pessoas, dentre elas 2 policiais, ferem mais 11 pessoas, 5 delas gravfemente, que estavam nas imediações. No mesmo dia outro terrorista, Amedy Coulibali, assassina um policial em outra região da Cidade.

08 de janeiro de 2015, Paris, França... 

Amedy invade um supermercado e mata 4 pessoas.

11 de janeiro de 2015, Paris, França...

Amedy é morto pela polícia. Em seguida o vídeo de autoria associada ao Estado Islâmico é divulgado.

13 de novembro de 2015, Paris, França...

Atentados simultâneos matam 129 pessoas, até agora, além de centenas de feridos. Foram explosões no Estade de France e tiroteiros na casa de shows Bataclan, no bar Le Carollon, no restaurante Le Petit Cambodge, no bar A La Bonne Biére, no bar La Belle Equipe e na Brassserie Comptoir Voltaire. Novamente o estado Islâmico assumiu os ataques e prometem mais.

Uma miríade de representantes Islâmicos vem a público renegar esses crimes como sendo praticados por sua fé, e sim por fundamentalistas radicais que não representam o Islamismo.

Não se justifica terrorismo. Está errado e pronto.
Mas precisamos entendê-lo. Precisamos muito entendê-lo.

Esse post surge porque, ao comentar a tragédia em dois grupos distintos, com pessoas distintas, quando falei que os terroristas tinham seus motivos, todos foram imediatos em dizer que não haviam motivos que justificassem o ato. Tentei dizer que motivos não são justificativas, mas os entendimentos pareceram tão surdos que resolvi falar aqui. E eu acho que, a falta de disposição para entender a situação é, em boa parte dos casos, a raiz de todo engano.

Não vou me ater ao fato de que, somos extremamente seletivos em relação a nossa identificação. 129 pessoas na França causam uma comoção no mundo ocidental que nenhuma dezena de milhar de negros africanos trucidados causaria. Não faltam exemplos... mas esse não é o tema.


O Estado Islâmico, conhecido como ISIS ou ainda Daesh, ocupam um território entre a Síria e o Iraque. A conquista veio à força e no vácuo de poder existente no território. Implantaram um modelo político teocrático e cometem uma barbaridade atrás da outra em nome de Alah.

Agora chegamos ao ponto... aqueles motivos... Mas tudo começa numa dúvida: Porque tantas pessoas daquela mesma região, com tanta frequência, decidem explodir pessoas mundo afora, matar inocentes e professar uma crença insana e primitiva? Porque, na região onde se encontra o Oriente-médio, a Península Arábica, parte da Ásia Oriental e Central e uma parcela do norte da áfrica, tem uma proliferação abundante de pessoas que acreditam ser essa uma melhor saída para a vida e para seu povo? Eu acho que esse é meu ponto de partida. Vou apresentar o que eu penso, tão somente.


Primeiro ponto, a meu ver é que é uma região rica, ou potencialmente rica. De muitos usos e muitas culturas antigas. Para o bem e para o mal ela está localizada na "fronteira" entre a Ásia e a Europa e o problema começa aí... o que deveria ser uma benção, vira uma maldição.

O povo árabe é numeroso, mas extremamente subdividido ao longo do tempo. Tal qual seus primos Judeus, possuem uma cultura forjada no deserto, com verdades absolutas, necessidades imediatas, intolerância a dissenção, tolerante ao sofrimento e perseverante com a naturalidade com que respiramos. Os Judeus, em sua imensa diáspora, foram influenciados pelas sociedades burguesas das quais participaram, mas os árabes cultivam, em muitos aspectos, a mesma visão árida do deserto.

Islã
Eles conseguiram edificar uma das civilizações mais avançadas e prósperas de sua época com os Califados árabes, quando finalmente edificaram uma identidade cultural que configura-se até hoje. Seguidas invasões e guerras em fim em seu território tornaram seu desenvolvimento um fardo, sendo unificados e divididos e invadidos seguidas vezes. Mesmo assim, depois da ascensão do monoteísmo islâmico, ampliaram fronteiras, convertendo pela fé ou pela espada, cada vez mais povos, dominaram o norte da áfrica e a península ibérica até serem expulsos da Europa.

A lista de conflitos na região é grande. Foram dominados ou acossados por Egípcios, Macedônios, Mongóis, Romanos, por toa  toda Europa nas Cruzadas e pelos Turcos que dominaram o que chamamos de Oriente Médio desde a queda do Império Bizantino em 1453 até 1922 com a primeira guerra mundial.

Durante toda a antiguidade e idade média a região era importante por ser rota comercial do oriente para a Europa, e por isso, todos a desejavam a ponto de matar e morrer pela riqueza da região. Além do aspecto econômico, a questão religiosa com a posse dos locais sacros das maiores religiões monoteístas do planeta está sempre na mesa de debates e nos campos de batalha.

Apenas no século 20, com o fim do Império Otomano, o povo árabe começou a desejar ser uma nação unificada com um país para chamar de seu. A ideologia do Pan Arabismo e o crescimento econômico da região foi solapado pelo desenvolvimento tecnológico mundial, utilizando petróleo como força motriz de carros, aviões, fábricas, navios... O Oriente Médio flutua sobre 1/3 das reservas de petróleo de todo o planeta. Essa riqueza, transformada em interesse das grandes potências fez com que o sonho de um grande Estado  Árabe fosse jogado no lixo através de diversos pequenos estados, dependentes economicamente da Europa e EUA e recebendo constante interferência política e econômica.

Em resumo, desde o fim da primeira guerra mundial, EUA, Inglaterra e França fazem o que querem na região em maior ou menor grau.

Bush e Saddam
 A formação da Arábia Saudita, da Síria, a criação de Israel, do Irã, Iraque, Kuait, Jordânia dentre outros... todos sofriam, e sofrem, interferência externa contínua. Saddam foi financiado pelos EUA até se opor aos interesses americanos (veja a imagem de Saddam com o presidente americano). O Irã, através de uma revolução religiosa derrubou o Xá Reza Pahlavi alimentado pelos Ingleses e Americanos e ganhou uma guerra com o Iraque financiada pelos Ocidentais. E essa condição não era limitada ao Oriente Médio e nem a Ásia. Por exemplo, o Afeganistão, sob domínio Russo, foi treinado e armado pelos EUA para os derrotarem, e depois foram invadidos devido a interesses políticos e
Bush e Saudita
econômicos. A lista de ajuda monetária, treinamento e armamento para aliados da Europa e EUA que se dispunham a derrubar governos não alinhados é enorme (veja imagem de integrante da família Bin Laden, que orbita o poder Saudita com apoio americano). Coloque nessa conta todas as ditaduras sulamericanas e não fica só nisso. A guerra do Vietnã e da Korea também possuem o dedo Americano,m Chines e Russo invadindo o campo de auto-deliberação de outros países em prol de seus benefícios políticos e econômicos.

Mas voltando aos Árabes.

Esse povo alimenta o sonho de definir os destinos de sua vida a quase 100 anos e são paupérrimos (com exceção de ilhas de riqueza, como o Catar) pisando num mar de ouro. A excessiva interferência Europeia resulta no acirramento das ideias de opressão e na xenofobia. A pobreza é celeiro fiel de novos radicais dispostos a explodir bombas no próprio corpo em prol de uma realidade melhor, de um futuro melhor porque que o seu presente é uma grande droga. Vejam onde nascem as principais organizações radicias e você terá um mapa dos territórios mais miseráveis e manipulados do mundo árabe. Essa ideologia transpõe fronteiras e encontra solo fértil na segregação e no desejo de independência. Essa ideologia encontra seus elos de identificação via religião, com a mesma virulência e radicalismo professado pelo cristianismo à época da "Santa" Inquisição, com o mesmo furor eugênico do Nazismo, e com a mesma ganância com que o Império Azteca e Inca foram dizimados pelos Latinos no "descobrimento" do continente americano.


Execução em massa de prisioneiros iraquianos pelo ISIS
O atual ISIS... surge no vácuo de poder perpetrado pelas constantes interferências no território Iraquiano. Com a derrubada do Governo e invasão americana, o caos social consequente permitiu essa excrecência. Tudo indica que o ISIS foi alimentado com armas americanas, que queriam apoiá-los na derrubada de ex-aliados que tomaram atitudes independentes. Tudo indica que a principal fonte de renda do ISIS seja a venda de petróleo... que é comprado pelo Irã e pela Turquia, aliada dos EUA, e revendido no mercado internacional. É obvio que isso está errado, mas na balança ou gangorra política local o que mais interessa aos países ricos é, quem me dará mais vantagens econômicas e políticas. O ISIS posta vídeos com atrocidades a meses e meses... dezenas deles... ninguém do ocidente se dispôs realmente a intervir até muito pouco tempo. Agora que sangue francês foi derramado em solo francês, a tendência é que as relações se modifiquem.

Em relação à França, a menos de 39 anos a França ainda possuía países colonizados. Djibout foi a última colônia francesa a conseguir sua independência. A 60 anos atrás, nada menos que 21 territórios eram colonizados (ou seja, escravizados) pela França. Até o início do século passado a população Parisiense era brindada com exibições "etnográficas", onde negros eram expostos em zoológicos improvisados como atração cultural. Recentemente a França integrou, e integra, a frente que bombardeia o Oriente Médio, o Afeganistão e onde quer que os interesses comerciais franceses, ingleses e americanos apontem. Não é de se espantar que os terroristas tenham apreço por explodir a França. A própria Síria era um país com majoritária interferência francesa até a Guerra Fria.

Doutrina Monroe
Paris é linda. A população francesa não merece explodir nas mãos de fanáticos fundamentalistas em nome de uma deturpação da fé. Mas é inegável que eles tem seus motivos. Quando os países ricos começarem a respeitar a auto-designação das nações mais pobres em vez de utilizar a Doutrina Monroe (que prega uma diplomacia de voz suave mas com um grande porrete nas mãos - sem pudor de usá-lo) talvez deixaremos a rotina do terrorismo como um marco histórico de seu tempo e não na constante cobertura dos telejornais diários.


Lamento, lamento tanto.


https://www.youtube.com/watch?v=-ni6AktLw5Y